Por que o Brasil está vivendo um “boom” da terapia?
- Priscilla Ribeiro
- 26 de ago. de 2024
- 3 min de leitura

Milhões de brasileiros abriram mão do preconceito e entenderam que a psicoterapia é um serviço necessário para viver de forma plena e com propósito. Mas apesar do sucesso das terapias no Brasil, o número ainda é pouco! Apenas 5% dos brasileiros afirmam realizar terapia de forma contínua no Brasil, segundo uma pesquisa do Instituto Cactos em parceria com o Atlas Intel. 19% até já passaram por algum tipo de atendimento, mas se resumiu a encontros pontuais. Por outro lado, 60% das pessoas que fazem terapia afirmaram ter começado durante a pandemia, de acordo com o Instituto FSB.
O “boom” da terapia não se explica por uma única via, mas sim um conjunto de fatores que determinam uma mudança cultural no Brasil. “Um deles pode ser a crescente conscientização sobre saúde mental e bem-estar emocional na sociedade contemporânea”, diz a psicanalista e Terapeuta Cognitivo Comportamental Patricia Strebinger. Para a especialista, as pessoas estão cada vez mais dispostas a buscarem ajuda psicológica para lidar com os desafios emocionais.
O que tem levado as pessoas à terapia no Brasil?
Segundo Patricia Strebinger, isso se dá porque boa parte da população está mais preocupada com o autocuidado e desenvolvimento pessoal. “Além disso, a diminuição do estigma associado à terapia e a ampliação do acesso a informações sobre seus benefícios também podem ter contribuído para esse aumento no interesse”, destaca.
Já a psicóloga clínica Tatiane de Sá Manduca lembra que houve um processo histórico por meio da literatura, da virtualidade e do conhecimento que levou à uma maior democratização do acesso à saúde. Antes disso, muitas pessoas naturalizavam o sofrimento. Nossos pais, avós e familiares com maior idade costumavam “engolir o choro” e não desabafar sobre as notas mentais que se formavam ao longo do tempo.
Outro fator relevante é o adoecimento mental em decorrência das jornadas longas de trabalho.
De acordo com dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (Anamt), aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a síndrome de burnout. A doença ocupacional passou a ser reconhecida e classificada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2022.
Tatiane Manduca reforça ainda que há no Brasil uma supervalorização da produtividade e da busca incansável pelo sucesso. “Isso é um alerta para o aumento das patologias atuais de ansiedade e depressão que enfrentamos”, enfatiza.
O poder da escuta terapêutica
A escuta ativa é um dos exercícios mais importantes para fortalecer a saúde mental. Em dias difíceis, não há problema em desabafar com um amigo, colega de trabalho ou familiar. Por outro lado, podemos ser agentes ativos e nos prestarmos a ouvir e compreender a dor do outro. Não precisa ter um conselho ou carta na manga, às vezes a escuta resolve.
Mas por muito tempo essa prática esteve distante do cotidiano, já que demonstrar força, estabilidade emocional e esconder as fraquezas eram características buscadas. “As pessoas se acomodavam com a dor, por preconceitos arraigados à ideia de que buscar atendimento terapêutico era sinal de ‘loucura'”, explica Tatiane Manduca.
Para a especialista, a escuta terapêutica possibilita com que as pessoas saiam de uma espécie de clausura que construíram para si mesmas. Eu, por exemplo, não tinha respostas para compreender o que acontecia na época em que busquei a terapia. Um atendimento qualificado, no entanto, me ajudou a perceber que eu sofria com Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), bastante comum entre os brasileiros.
A escuta possibilita ainda com que as pessoas validem suas experiências de dor e legitimem os desconfortos. “Mais do que isso, é um espaço aberto para a necessidade de falar de si, falar sobre sua forma de amar, de viver, de se relacionar”, explica.
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